Veja como o conhecimento sobre o transtorno bipolar pode ajudar a reduzir o estigma em torno de quem sofre com essa doença.
O transtorno bipolar, também conhecido como transtorno afetivo bipolar (ou somente TAB), é uma condição psiquiátrica caracterizada por persistentes alterações no humor, no estado de agitação, no nível de energia ou mesmo na concentração de uma pessoa, fazendo com que ela alterne entre episódios de depressão e de mania1. Dessa forma, quem conhece alguém diagnosticado com o problema deve ter em mente sempre que:
- As mudanças de humor não são iguais em todos os pacientes;
- O tratamento pode ajudar bastante na melhoria dos sintomas;
- Apesar disso, o transtorno bipolar pode ser uma condição que segue pela vida toda;
- O transtorno bipolar é um fator de risco para tentativas de suicídio;
- Contar com uma rede de apoio pode fazer toda a diferença.
Diante de tudo isso, quem está próximo de alguém com TAB deve ter uma dimensão de como essa condição pode evoluir para quadros graves. No mais, é necessário compreender como o estigma pode afetar ainda mais quem sofre com o problema.
1. As diferenças nos padrões de mudanças de humor em pacientes com transtorno bipolar
Quando se pensa em mudança de humor, é comum que as pessoas pensem em oscilações que são comuns a todos nós. É natural que estejamos mais dispostos em um dia e mais irritados ou cabisbaixos em outros.
No transtorno afetivo bipolar as coisas não são assim. Além das mudanças tornarem as atividades do dia a dia mais difíceis, quem sofre com o TAB passa por oscilações de humor que podem durar dias ou semanas2. Outro ponto importante é que existem diferentes tipos de transtorno bipolar, categorizados conforme o padrão de mudança de humor:
- No transtorno bipolar I, a pessoa tem um episódio maníaco que dura pelo menos sete dias. Por mania entende-se o conjunto de sintomas que fazem com que o paciente mantenha um humor elevado e expansivo, com aumento da energia e da atividade dirigida a determinados objetivos. De todo modo, esses indivíduos também podem experimentar quadros depressivos, que duram pelo menos duas semanas1,3;
- No transtorno bipolar II, o paciente alterna entre estados depressivos e quadros de hipomania, que são caracterizados por uma elevação da atividade e do humor menor do que nos episódios de mania1;
- Por fim, no transtorno bipolar ciclotímico a alternância de humor tende a ser mais frequente e nem sempre os sintomas são suficientes (em intensidade ou duração) para caracterizar os episódios maníacos ou depressivos1.
Além das características gerais, cada caso pode apresentar particularidades específicas que também são consideradas no momento do diagnóstico. Um paciente pode ter um quadro de transtorno bipolar com ciclagem rápida, por exemplo. Nesses casos, os episódios de mania e de depressão se alternam mais do que quatro vezes em um ano3.
2. As opções de tratamento que podem ajudar bastante na melhoria dos sintomas
O diagnóstico correto do transtorno bipolar pode demorar anos, principalmente pela confusão dos sintomas apresentados com o de outras doenças psiquiátricas, como a depressão4.
No entanto, o diagnóstico adequado permite a prescrição do tratamento apropriado. Isso contribui para que o paciente retome sua qualidade de vida e sua capacidade de desenvolver atividades cotidianas 1.
Assim sendo, a maioria dos tratamentos combina a prescrição de determinados medicamentos (os mais utilizados são os estabilizadores de humor e os antipsicóticos) com a psicoterapia1. Episódios severos de mania podem exigir atendimento hospitalar urgente4.
3. O transtorno bipolar pode ser uma condição crônica
De todo modo, é preciso levar em conta que o tratamento pode precisar ser mantido pela vida toda4. Essa continuidade ajuda a evitar novos episódios de oscilação de humor no futuro4. Por isso, é importante que o paciente se mantenha em contato com seu médico, inclusive para obter esclarecimento sobre potenciais efeitos colaterais da medicação e garantir que a concentração do componente no organismo seja adequada, o que costuma ser necessário quando há a prescrição de determinados estabilizadores de humor4.
Estima-se que o transtorno bipolar seja uma das principais causas de incapacidade no mundo todo. Um estudo publicado em 2022 reuniu as evidências disponíveis sobre o tema e apontou que pacientes com TAB experimentam uma redução na expectativa de vida5.
Na média, eles têm também 13 anos potenciais de vida perdidos5. O prejuízo é notado mesmo quando se comparado com pacientes com outros transtornos de saúde mental, como ansiedade, depressão e esquizofrenia5.
4. O transtorno bipolar aumenta o risco de tentativas de suicídio
Boa parte do impacto do transtorno bipolar sobre a expectativa de vida de quem sofre com o problema se dá por conta da alta taxa de tentativas de suicídio nesse público6. Acredita-se que a chance de alguém com TAB tentar tirar a própria vida seja de 10 a 30 vezes maior do que a média geral6.
Por isso, todos aqueles que cercam alguém com transtorno bipolar devem ter ciência desse risco. Tal abordagem por ser relevante para que familiares e amigos saibam reconhecer sinais de alerta e tomem medidas para evitar esse desfecho (como reduzir o acesso aos meios para infligir dano à própria vida ou reforçar a importância da aderência ao tratamento)6.
5. A importância de uma rede de apoio no tratamento do transtorno bipolar
Por falar em rede de apoio, vale destacar a importância desse suporte no acompanhamento de alguém com transtorno bipolar. Acima de tudo, quem ocupa esse posto deve deixar de lado estereótipos relacionados a problemas de saúde mental. Isso pode gerar estigmas que afetam a procura por assistência especializada e a continuidade do tratamento7.
Alguém que sofre com o transtorno bipolar pode deixar de buscar ajuda profissional ou parar de tomar os remédios por conta própria por medo de ser rotulado com um problema de saúde mental, por exemplo7. No fim, isso pode levar a um comprometimento ainda mais significativo pela doença, prejudicando a inserção social dos pacientes em diferentes esferas da vida7.
REFERÊNCIAS:
- NATIONAL INSTITUTE OF HEALTH. Bipolar Disorder. Disponível em: <https://www.nimh.nih.gov/health/topics/bipolar-disorder>. Acesso em: 27 nov 2023.
- AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION. What Are Bipolar Disorders? Disponível em: <https://www.psychiatry.org/patients-families/bipolar-disorders/what-are-bipolar-disorders>. Acesso em: 27 nov 2023.
- AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
- JAIN, Ankit e MITRA, Paroma. Bipolar Disorder. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK558998/>. Acesso em: 27 nov 2023.
- CHAN, Joe Kwun Nam et al. Life expectancy and years of potential life lost in bipolar disorder: systematic review and meta-analysis. The British Journal of Psychiatry, v. 221, n. 3, p. 567-576, 2022.Disponível em: <https://www.cambridge.org/core/journals/the-british-journal-of-psychiatry/article/life-expectancy-and-years-of-potential-life-lost-in-bipolar-disorder-systematic-review-and-metaanalysis/3C1A114F0B3E703984F95FDE7D68B171> Acesso em: 27 nov 2023.
- DOME, Peter; RIHMER, Zoltan; GONDA, Xenia. Suicide risk in bipolar disorder: a brief review. Medicina, v. 55, n. 8, p. 403, 2019. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6723289/> Acesso em: 27 nov 2023.
- MOURA, Hérica Dayanne de Sousa et al. Transtorno afetivo bipolar: sentimentos, estigmas e limitações. Rev. enferm. UFPE on line, p. [1-7], 2019. Disponível em: <https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1049594> Acesso em: 27 nov 2023.
Material destinado ao público geral.
BRZ2322429 – Julho/2024